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Entrevista com Adriana Machado


Por: Rita Ramos Cordeiro

“Não esmoreçamos diante das tormentas humanas, não acreditemos que não somos capazes. Sigamos em frente, ultrapassando cada dificuldade com a compreensão do que elas nos ensinam e com a generosidade de nos fazermos úteis a quem de nós necessita.”

Adriana Machado Andrade da Silva nasceu e mora atualmente em Vitória, Espírito Santo. É escritora mediúnica e advogada. É casada há 27 anos e tem dois filhos. Atualmente intercala seu tempo entre a família, a psicografia dos livros espíritas e coordenação na casa espírita que frequenta.

1- Há quanto tempo você é espírita e como foi esse processo?

Acho que sou espírita desde sempre. Meu pai era espírita e minha mãe, católica. Frequentei durante toda a minha infância e adolescência as missas dominicais, fui batizada, mas, algo em mim, clamava por algo mais. Eu já estudava a Doutrina Espírita e foi com 17 anos que eu comecei a trabalhar com a minha mediunidade. Foi um processo natural eu abraçar a doutrina, como aquela que me trouxe consolação e esclarecimentos que tanto buscava, associada à prática mediúnica e da caridade.

2- Você faz parte de alguma Casa Espírita e qual trabalho desenvolve nesta casa?

Eu frequento a Fraternidade Cristã Bezerra de Menezes. É o meu segundo lar. Lá, eu e meus colegas tentamos desenvolver o trabalho de amor, amparo e consolação através da caridade, bem como os trabalhos mediúnicos voltados para a cura e esclarecimentos doutrinários e cristãos. A psicografia veio para complementar tudo isso.

3- Quantos e quais livros você tem publicado?

Ao todo, eu psicografei 5 livros, tendo sido o primeiro publicado pela nossa Casa no ano de 2013, cujo título é Onde Tudo Começou.

Do segundo livro em diante, todos foram publicados e distribuídos pela Editora Dufaux, nesta ordem:

- Perdão, a chave para a Liberdade;

- Nem tudo é carma, mas tudo é escolha;

- Um jovem obsessor: a força do amor para a redenção espiritual; e

- Um Jovem Médium: coragem e superação pela força da fé.

4- Como foi seu primeiro contato com os espíritos que ditam seus livros?

Eu estava trabalhando e Ezequiel veio até mim e fez uma proposta para aprimorarmos a minha escrita intuitiva e psicografarmos uma obra mediúnica. Foi com muita emoção que aceitei essa oferta e, até hoje, continuamos neste intercâmbio. Já com Jefferson, foi diferente. Ele veio até mim, como uma inspiração, e me disse: Olá, eu sou o Jefferson e eu sou um obsessor. Nossa, foi uma surpresa. Nada senti de ruim e pensei comigo: que estranho! Depois, ele veio algumas outras vezes com essa frase em minha mente e até pensei que seria mais um tema para um livro.

Mas, admito que fiz algumas orações para harmonização do meu lar por estar sendo “apresentada” a um obsessor. Pouco tempo depois, Ezequiel veio trazê-lo para que eu o conhecesse na vigília e percebi o quanto ele era maravilhoso. Então, pudemos começar a psicografar o primeiro livro dele. Um Jovem Obsessor, uma obra que nos leva a entender um pouco mais profundamente sobre o lado escuro de nossas vidas. Hoje, estamos psicografando juntos o segundo livro dele e o aprendizado continua.

5- Como iniciou seu trabalho com os livros espíritas?

Eu e Ezequiel levamos três anos para a conclusão do primeiro livro “Onde tudo começou”. Foi engraçado porque quando eu pensava que já tinha terminado, ele mandava voltar e revisar para incluirmos mais coisas. Lembrem-se que, naquela época, a gente psicografava no caderno, ou seja, incluir e revisar temas não era muito fácil. Assim, por duas ou três vezes, eu pensei que já estava perfeito e ainda assim voltamos e incluímos mais informações, mais esclarecimentos, mais coerência nos fatos. Foi um aprendizado e tanto.

6- Como é o processo de psicografia de seus livros?

Acho que do mesmo jeito que todo mundo... vem o autor espiritual com a proposta de psicografarmos um livro; rotineiramente, marcamos um horário para a realização do intercâmbio, harmonizamos o ambiente em que estamos com orações e cânticos e me concentro para que as ideias possam fluir do autor espiritual para mim. Admito que eles, às vezes, têm que rebolar em razão do meu horário tão doido, mas conseguimos atingir o nosso intento. Uma forma diferente foi com o livro “Perdão, a Chave para a Liberdade”. Eu, praticamente, o psicografei todinho na sala de visita do fisioterapeuta de minha mãe. Todos os dias eu tinha de levá-la a ele, então, pedi a Ezequiel que fizéssemos lá e ele, concordando, me mandava as coordenadas da história de longe e eu digitava as ideias. Claro que a minha vigilância era dobrada e orações eram proferidas aos montes naquele ambiente. Também, quando eu percebia que o lugar parecia não estar adequado naquele dia, eu não psicografava.

Percebo que o método que os autores espirituais usam comigo, é mais intuitivo, ou seja, a ideia vem meio pronta e eu vou descrevendo no papel como eu entendo os fatos expostos. Mas, há momentos que eles ditam para mim algumas partes porque acho que teria dificuldade de interpretá-las ou expô-las em palavras.

7- O livro Um Jovem Médium, lançado em 2021, é um relançamento do livro Onde tudo começou. Nos conte um pouco sobre este trabalho.

É interessante como são as coisas: eu sempre achei o livro Onde tudo começou “perfeito”. Ele tinha começo, meio e fim, não tinha nenhuma ponta solta, nada. Estava acabado e era lindo. Mas, admito que, sendo a primeira obra que psicografei, e comparando com as demais que vieram depois, ela era um pouco mais crua.

De qualquer forma, foi uma surpresa para mim quando Ezequiel me pediu que refizéssemos a obra. Ele queria ampliá-la e, mais ainda, queria incluir temas e discussões que não havia na obra original. Admito que fiquei bem rebelde. Não queria modificar nada no livro porque para mim ele estava pronto e acabado. Mas, quem manda é ele, né? Então, peguei o arquivo original e começamos a nova empreitada. Nossa! Essa tarefa foi um enorme aprendizado para mim. Ele pegou algo que para mim já estava “perfeito e acabado” e criou algo maravilhoso, com temas atuais sobre a fé, o preconceito e a intolerância de cunho religioso, racial e social de uma forma muito leve, mas bem profunda.

8- O livro Um Jovem Médium narra a trajetória de um jovem que enfrenta o preconceito e a intolerância devido aos seus dons mediúnicos. Como você analisa esta questão?

Olha, eu sou do final do século passado, mas ainda vivenciei muito preconceito e intolerância no que concerne a minha escolha religiosa e filosófica.

Quando eu participava das missas dominicais, de tempos em tempos o padre discursava sobre os tais espíritas que atuavam com o auxílio de espíritos que não mereciam o reino de Deus. Sei que precisamos ser coerentes com o que acreditamos ou dizemos seguir à título de religião, e o padre estava fazendo o papel dele, mas era desagradável escutar tudo aquilo porque não era a realidade que eu vivenciava.

Talvez, o meu erro foi querer associar às duas coisas (catolicismo e espiritismo), mas, eu ir à missa fazia a mim e à minha mãe feliz. Se isso só já não bastasse, em qualquer lugar, os olhares e a discriminação das pessoas naquela época, eram bastante desabonadores. O incrível é que a maioria dessas pessoas não sabia a razão de temer ou não aceitar a minha filosofia. Eu me lembro uma vez que fui buscar minhas correspondências na administração do condomínio em que eu morava e um livro espírita, do Clube do Livro que eu assinava, tinha chegado. O olhar de quem me entregou foi impagável. O seu temor era tão grande que parecia que havia o vírus do ebola naquele envelope.

Então, se pensarmos que ainda hoje existe essa ignorância, onde as pessoas pensam que o espiritismo é repleto de macumbeiros e pessoas do mal, você precisa ser muito firme no que acredita para não esconder quem você é e o que professa.

9- Como foi o desenvolvimento de sua mediunidade?

Meu pai participava de uma casa espírita e eu sempre ia lá tomar passes, aprender um pouco mais e me sentir bem. Quando eu tinha dezessete anos, eu queria muito participar de tudo aquilo e, quando eu tive autorização para integrar o grupo, o fiz com muita felicidade. Mas, como todo mundo, acredito que ainda não terminei o meu desenvolvimento ou educação mediúnica e não a finalizarei jamais.

Diariamente, estamos aprendendo e a aprimorando mais e mais, e vamos continuar assim por muitas existências até que realmente aprendamos e sintamos que as ferramentas primordiais para esse dom é o amor incondicional, e a dedicação ao trabalho e aos nossos irmãos necessitados.

10- Como você vê o mercado editorial espírita atualmente?

Através de um olhar otimista e sonhador, vejo o mercado editorial espírita como um manancial de oportunidades literárias para todos aqueles que buscam levar o consolo e o amparo através da propagação das verdades espirituais que nos regem, do autoconhecimento, do autoamor.

Mas, de uma forma muito realista, percebo o quanto é difícil para todos, não só para os escritores, como também para as próprias editoras se manterem abertas e atuantes em um país onde ler não é um hábito reinante.

Sou grata, entretanto, por fazer parte deste ambiente onde, mesmo na labuta árdua para continuarmos distribuindo tais palavras esclarecedoras, a espiritualidade maior está sempre a nos impulsionar e encorajar a continuarmos em frente.

11- Que orientação você daria para as pessoas que passam por situações parecidas como as narradas Um Jovem Médium no livro, com relação ao desenvolvimento da mediunidade, ou para quem acredita ter mediunidade, mas não sabe a quem recorrer?

Eu não tive, no núcleo da minha família, resistência para o meu ingresso no grupo mediúnico, mas pessoas muito próximas e preciosas para mim, eram muito católicas e elas não viam com bons olhos eu ser espírita. Soube até que falavam que eu lidava com o diabo. Outras diziam na minha cara: como você pode ser espírita se é uma pessoa tão boa?

Não foi fácil, mas eu sabia que o que eu fazia era o certo e que não estava prejudicando ninguém. Então, se eu posso dar um conselho: ouçam o seu coração e vejam o que está lhe fazendo bem. Eu sempre digo para os novos integrantes de nossa Casa que não é fácil seguir Jesus quando queremos nos lapidar espiritualmente.

Muitos serão os obstáculos colocados à nossa frente para termos justificativas plausíveis para não continuarmos nesta caminhada, mas que devemos sempre lembrar os benéficos resultados de nossos esforços, seja para nós, seja para o nosso próximo. Busquem um centro espírita que lhes traga confiança em seu trabalho e se integrem a essa nova família que somente lhes trará bons frutos.

12- Agradecemos sua disponibilidade em nos conceder esta entrevista, e pedimos que deixe uma mensagem aos leitores do site do Instituto Chico Xavier.

Só posso deixar uma mensagem que seja de otimismo e alento aos seus corações. Estamos passando por muitas dificuldades, mas conforme as enxerguemos sob o manto da Misericórdia e Justiça Divinas mais fácil será aplicarmos o que estamos aprendendo.

Estamos na carne de passagem, e necessitamos aproveitar cada lição dada pela vida para nos regenerarmos o mais rápido que nos for possível. Não esmoreçamos diante das tormentas humanas, não acreditemos que não somos capazes... Sigamos em frente, ultrapassando cada dificuldade com a compreensão do que elas nos ensinam e com a generosidade de nos fazermos úteis a quem de nós necessita. Assim, seremos o melhor exemplo para aqueles que amamos e para os que ainda não aprendemos a amar.

Agradeço ao Instituto Chico Xavier por este carinho e desejo a todos muita paz e luz!

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